quinta-feira, 25 de outubro de 2007



- Ontem sonhei contigo.
- E foi bom?
- Não sei. Deve ter sido.
- Porquê?
- Porque acordei a meio da noite com sede.
- De mim?
- De nós.
- E depois?
- Depois foste beber água comigo.







quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Tadinho...




Tadinho deste blogue, tão abandonado!
Prometo regresso em breve e vão ter de me aturar...


terça-feira, 9 de outubro de 2007

Receita - Tortas de Natal


A cebola tem de ser picada miudinha. Sugiro-lhes que ponham um bocadinho de cebola na moleirinha a fim de evitar o incómodo lacrimejar que acontece quando a cortamos. O aborrecido de chorar quando picamos cebola não é o simples facto de chorar, mas sim às vezes começarmos, ou melhor, ficarmos picados, e já não conseguirmos parar. Não sei se já vos aconteceu, mas a mim, para dizer a verdade, já. Vezes sem conta. A Mamã dizia que era por eu ser tão sensível à cebola como Tita, a minha tia-avó.
Dizem que Tita era tão sensível que quando ainda estava na barriga da minha bisavó chorava e chorava quando esta picava cebola; o choro dela era tão forte que Nacha, a cozinheira da casa, que era meio surda, o ouvia sem se esforçar. Um dia os soluços foram tão fortes que fizeram com que o parto se adiantasse. E sem que a minha bisavó tivesse tempo para dar um ai, Tita chegou a este mundo prematuramente, em cima da mesa da cozinha, entre os cheiros de uma sopa de aletria que estava a ser cozinhada, do tomilho, do louro, dos coentros, do leite fervido, dos alhos e, é claro, da cebola.
Como poderão imaginar, a costumeira nalgada não foi necessária pois Tita nasceu a chorar de antemão, talvez por saber que o seu oráculo determinava que nesta vida lhe estava negado o casamento. Contava Nacha que Tita foi literalmente empurrada para este mundo por uma torrente impressionante de lágrimas que se derramaram pela mesa e pelo chão da cozinha.
À tarde, quando o susto já tinha passado e a água, graças ao efeito dos raios do sol, se tinha evaporado, Nacha varreu o resíduo das lágrimas que tinha ficado sobre a laje vermelha que cobria o chão. Com este sal encheu um fardo de cinco quilos que utilizaram para cozinhar durante bastante tempo. Este inusitado nascimento foi determinante para o facto de Tita sentir um imenso amor pela cozinha, sendo a maior parte da sua vida ali passada, praticamente desde que nasceu, pois quando tinha dois dias de idade, o pai, ou seja, o meu bisavô, morreu de enfarte. A Mamã Elena, com o choque, ficou sem leite. Como naquele tempo não havia leite em pó nem nada que se parecesse, e não conseguiram encontrar ama em lado nenhum, viram-se num verdadeiro sarilho para acalmar a fome da menina. Nacha, que sabia tudo acerca de cozinha — e muito mais coisas que agora não vêm ao caso — ofereceu-se para tomar conta da alimentação de Tita. Ela considerava-se a mais capacitada para «formar o estômago da inocente criaturinha», apesar de nunca ter casado nem ter tido filhos. Nem sequer sabia ler nem escrever, mas acerca de cozinha tinha conhecimentos tão profundos como as melhores. A Mamã Elena aceitou com agrado a sugestão pois já tinha que chegasse com a tristeza e a enorme responsabilidade de conduzir correctamente o rancho, para poder dar aos seus filhos a alimentação e a educação que mereciam, para ainda por cima ter de se preocupar em nutrir devidamente a recém-nascida.
Portanto, desde esse dia, Tita mudou-se para a cozinha e entre atoles e chás cresceu saudável e vistosa. Percebe-se, assim, o facto de ter desenvolvido um sexto sentido relativamente a tudo o que se refere a comida. Por exemplo, os seus hábitos alimentares estavam condicionados ao horário da cozinha: quando de manhã Tita sentia o cheiro dos feijões já cozidos, ou quando a meio do dia lhe cheirava que a água já estava pronta para depenar as galinhas, ou quando à tarde se cozia o pão para o jantar, ela sabia que tinha chegado a hora de pedir os seus alimentos.
Às vezes chorava em vão, como quando Nacha picava cebola, mas como as duas sabiam a razão dessas lágrimas, não as levavam a sério. Inclusivamente convertiam-se em motivo de divertimento, a tal ponto que durante a sua infância Tita não percebia muito bem a diferença entre as lágrimas do riso e as do choro. Para ela, rir era uma maneira de chorar.
Confundia igualmente o prazer de viver com o de comer. Não era fácil para uma pessoa que conheceu a vida através da cozinha entender o mundo exterior. Esse gigantesco mundo que começava na porta da cozinha que dava para o interior da casa, porque aquilo que fazia fronteira com a porta traseira da cozinha e que dava para o pátio, para a horta, para o quintal, pertencia-lhe completamente, dominava-o. Totalmente ao contrário das irmãs, a quem este mundo atemorizava e que consideravam cheio de perigos incógnitos. Achavam as brincadeiras dentro da cozinha absurdas e arriscadas, no entanto, um dia Tita convenceu-as de que era um espectáculo fabuloso ver como bailavam as gotas de água quando caíam sobre o comal muito quente.
Mas enquanto Tita cantava e sacudia ritmicamente as mãos molhadas para que as gotas de água se precipitassem sobre o comal e «dançassem», Rosaura permanecia num canto, pasmada com o que observava. Em contrapartida, Gertrudis, que gostava de tudo aquilo em que interviesse o ritmo, o movimento ou a música, sentiu-se fortemente atraída pela brincadeira e integrou-se com entusiasmo. Então Rosaura não teve outro remédio senão tentar fazer o mesmo, mas como quase não molhou as mãos e fê-lo com tanto medo, não conseguiu o efeito desejado. Tita então procurou ajudá-la aproximando-lhe as mãos do comal. Rosaura resistiu e esta luta não parou senão quando Tita, muito aborrecida, lhe largou as mãos e estas, por inércia, caíram sobre o comal ardente. Além de ter levado uma valente tareia, Tita ficou proibida de brincar com as irmãs dentro do seu mundo. Então Nacha converteu-se na sua companheira de divertimento. Juntas dedicavam-se a inventar jogos e actividades sempre relacionadas com a cozinha. Como no dia em que viram na praça da vila um senhor que formava figuras de animais com balões compridos e lembraram-se de repetir o mecanismo, mas utilizando pedaços de chouriço. Armaram não só animais conhecidos como ainda inventaram outros com pescoço de cisne, patas de cão e cauda de cavalo, para citar só alguns.
O problema surgia quando tinham de os desfazer para fritar o chouriço. A maior parte das vezes Tita recusava-se. A única maneira em que acedia voluntariamente a fazê-lo era quando se tratava de elaborar as tortas de Natal, pois adorava-as. Então, não só deixava que desfizessem um dos seus animais, como observava alegremente enquanto se fritava.
É preciso ter o cuidado de fritar o chouriço para as tortas em fogo muito lento, para que desta maneira fique bem cozido, mas sem dourar excessivamente. Quando está pronto retira-se do lume incorporam-se-lhe as sardinhas, a que anteriormente já se retirou esqueleto. É necessário, também, raspar com uma faca as manchas negras que têm sobre a pele. Juntamente com as sardinhas misturam-se a cebola,
os pimentos picados e o orégão moído. Deixa-se repousar a preparação, antes de rechear as tortas.
Tita tinha um prazer enorme neste passo pois enquanto o recheio repousa é muito agradável sentir o cheiro que exala, pois os cheiros têm a característica de reproduzir tempos passados juntamente com sons e cheiros nunca igualados no presente. Tita gostava de fazer uma inalação profunda e viajar juntamente com o fumo o cheiro tão peculiar que sentia até aos recônditos da sua memória.
Foi em vão que procurou evocar a primeira vez que cheirou uma destas tortas, sem resultado, porque talvez tivesse sido antes de ela nascer.
Talvez a estranha combinação das sardinhas com o chouriço tivesse chamado tanto a sua atenção que a fez decidir-se a renunciar à paz do éter, escolher a barriga da Mamã Elena para que fosse sua mãe e desta maneira fazer parte da família De la Garza, que comia de forma tão deliciosa e que preparava um chouriço tão especial.
No rancho da Mamã Elena a preparação do chouriço era um autêntico rito. Com um dia de antecedência era preciso começar a descascar alhos, a limpar chiles e a moer especiarias. Todas as mulheres da família tinham de participar: a Mamã Elena, as suas filhas Gertrudis, Rosaura e Tita, Nacha a cozinheira e Chencha a criada. Sentavam-se de tarde à mesa da sala de jantar e entre conversas e brincadeira o tempo voava até começar a escurecer. Então a Mamã Elena dizia:
— Por hoje, acabámos isto.
Dizem que para bom entendedor meia palavra basta, e por isso depois de ouvirem esta frase todas sabiam o que tinham de fazer. Primeiro levantavam a mesa e depois dividiam as tarefas: uma recolhia as galinhas, outra tirava água do poço e deixava-a pronta para ser utilizada ao pequeno almoço e outra encarregava-se da lenha para o fogão. Nesse dia não se passava a ferro nem se bordava nem se cosia roupa. Depois iam todas para os seus quartos ler, rezar e dormir. Numa dessas tardes, antes de a Mamã Elena dizer que já podiam levantar a mesa, Tita, que contava então quinze anos, anunciou com voz tremente que Pedro Muzquiz queria vir falar com ela...
— E acerca de quê quer esse senhor falar comigo?
Disse a Mamã Elena depois de um silêncio interminável que apertou a alma de Tita.
Com uma voz que mal se ouvia respondeu:
— Não sei.
A Mamã Elena lançou-lhe um olhar que para Tita encerrava todos os anos de repressão que tinham flutuado sobre a família e disse:
— Pois vale mais que o informes que se é para pedir a tua mão, que não o faça. Perderia o seu tempo e far-me-ia perder o meu. Sabes muito bem que por seres a mais nova das mulheres cabe-te a ti cuidares de mim até ao dia da minha morte.
Dizendo isto, a Mamã Elena pôs-se lentamente de pé, guardou os óculos dentro do avental e em jeito de ordem final repetiu:
— Por hoje, acabámos isto!
Tita sabia que dentro das normas de comunicação da casa não estava incluído o diálogo, mas mesmo assim, pela primeira vez na vida tentou protestar contra uma ordem da mãe:
— Mas é que eu acho que...
— Tu não achas nada e acabou-se! Nunca, durante gerações, ninguém na minha família protestou contra este costume e não vai ser uma das minhas filhas a fazê-lo.
Tita baixou a cabeça e com a mesma força com que as suas lágrimas caíram sobre a mesa, assim caiu sobre ela o seu destino. E a partir desse momento ela e a mesa souberam que não podiam modificar nem um bocadinho a direcção dessas forças desconhecidas que as obrigavam, a uma, a partilhar com Tita a sua sina, recebendo as suas amargas lágrimas desde o momento em que nasceu, e a outra a assumir esta absurda determinação.
No entanto, Tita não estava conformada. Uma grande quantidade de dúvidas e inquietações acudiam à sua mente. Por exemplo, gostaria de saber quem é que teria iniciado esta tradição familiar. Seria bom fazer saber a essa engenhosa pessoa que no seu perfeito plano para garantir a velhice das mulheres havia um pequeno erro. Se Tita não podia casar nem ter filhos, quem é que ia então cuidar dela quando chegasse à senilidade? Qual era a solução acertada nestes casos? Ou seria que não se esperava que as filhas que ficavam a cuidar das mães sobrevivessem muito tempo depois do falecimento das suas progenitoras? E onde é que ficavam as mulheres que se casavam e não podiam ter filhos, quem é que se encarregaria de tomar conta delas? E mais, queria saber, quais foram as investigações levadas a cabo para concluir que a filha mais nova era a mais indicada para velar pela sua mãe e não a filha mais velha? Alguma vez se tomara em conta a opinião das filhas em causa? Era-lhe permitido, pelo menos, já que não podia casar-se, conhecer o amor? Ou nem sequer isso?
Tita sabia muito bem que todas estas interrogações tinham de passar irremediavelmente a fazer parte do arquivo de perguntas sem resposta. Na família De la Garza obedecia-se e ponto final. A Mamã Elena, ignorando-a por completo, saiu muito enfadada da cozinha e durante uma semana não lhe dirigiu a palavra.
O reatamento desta semicomunicação teve origem quando, ao revistar os vestidos que cada uma das mulheres tinha estado a coser, a Mamã Elena descobriu que mesmo sendo o mais perfeito aquele que Tita confeccionara, não o tinha alinhavado antes de o coser.
— Parabéns — disse-lhe —, os pontos estão perfeitos, mas não o alinhavaste, pois não?
— Não — respondeu Tita, espantada por ela ter suspendido a lei do silêncio.
— Então vais ter de o desmanchar. Alinháva-lo, cose-lo novamente e depois vens ter comigo para que o reviste. Para que não te esqueças que o desleixo e a mesquinhice têm caminho duplo.
— Mas isso é quando nos enganamos e a senhora foi a própria a dizer ainda agora que o meu era...
— Vamos começar outra vez com a rebeldia? Já tinhas feito o suficiente com essa de te teres atrevido a coser quebrando as regras.
— Perdoe-me, mãezinha. Não volto a fazer.
Tita conseguiu com estas palavras acalmar a zanga da Mamã Elena.
Tinha posto muito cuidado ao pronunciar o «mãezinha» no momento e com o tom adequado. A Mamã Elena achava que a palavra mamã parecia falta de respeito, e por isso obrigara as suas filhas desde crianças a utilizarem a palavra «mãezinha» sempre que se lhe dirigissem. A única que resistia a isto ou que pronunciava a palavra num tom inadequado era Tita, e por causa disso tinha leva-(In lima infinidade de bofetadas. Mas, naquele momento, como conseguira dizê-lo tão bem! A Mamã Elena sentia-se reconfortada com o pensamento de que talvez estivesse a conseguir dobrar o carácter da mais nova das suas filhas. Mas, infelizmente, acarinhou esta esperança por muito pouco tempo, pois no dia seguinte apareceu lá em casa Pedro Muzquiz acompanhado do senhor seu pai com a intenção de pedir a mão de Tita. A presença dele na casa causou um grande desconcerto. Não esperavam a sua visita. Dias antes, Tita mandara um recado a Pedro pelo irmão de Nacha pedindo-lhe que desistisse dos seus propósitos. Aquele jurou que o tinha
entregado ao senhor Pedro, mas a verdade é que eles apareceram lá em casa. A Mamã Elena recebeu-os na sala, comportou-se de uma forma muito amável e explicou-lhes a razão pela qual Tita não se podia casar.
— Claro que se o que lhes interessa é que Pedro se case, ponho à sua consideração a minha filha Rosaura, só dois anos mais velha do que Tita, mas totalmente disponível e preparada para o casamento...
Ao ouvir estas palavras, Chencha por pouco entornava por cima da Mamã Elena a bandeja com café e bolachas que tinha levado à sala para aconchegar o senhor Pascual e o filho. Desculpando-se, retirou-se apressadamente para a cozinha, onde estavam à sua espera Tita, Rosaura e Gertrudis para que lhes fizesse um relatório pormenorizado do que acontecia na sala. Entrou atrapalhadamente e todas interromperam imediatamente os seus trabalhos para não perderem uma só das suas palavras.
Encontravam-se ali reunidas com o propósito de prepararem tortas de Natal. Como o seu nome o indica, estas tortas são confeccionadas durante a época natalícia, mas nesta altura estavam a fazê-las para festejar o aniversário de Tita. A 30 de Setembro faria 16 anos e queria celebrá-los a comer um dos seus pratos favoritos.
— Então nã hã-de lá ver? A sua mamã fala de estar preparada para o casamento como se fora um prato de enchiladas!

"Como água para chocolate" - Laura Esquível


P.S. A imagem anterior é pirosa. O amigo imaginário merece melhor. Vou ver se arranjo. Prometo. Mas se calhar até gosto dessa pirosice.
Como dizia o poeta: "É claro que te amo.
E tenho tudo para ser feliz.
Mas, acontece que sou triste".
Vá lá entender...

Desculpas.

Acusam-me de arranjar desculpas para tudo e mais alguma coisa, mas eu posso explicar.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Vinícius de Moraes - Soneto de Fidelidade

Ai, ai...

Raul Seixas - Maluco Beleza

Dedicada ao "Banco de Portugal"

Serviço público: Miradouros perigosos





São muitas dezenas de miradouros existentes na Madeira, mas há uma boa percentagem destes espaços de observar a natureza que não oferecem as mínimas condições de segurança a quem os procura, sejam eles turistas - normalmente arriscam mais - sejam madeirenses.

O DIÁRIO fez ontem uma ronda por diversos locais de habitual paragem dos visitantes e residentes que apreciam o que de melhor a ilha tem (e não falamos aqui do Porto Santo, que também tem os seus miradouros).

Uma constatação óbvia: há perigos à espreita e o caso que, quarta-feira, aconteceu no Caniçal, onde uma jovem perdeu a vida, pode repetir-se. Ou, pelo menos, há um potencial de risco que pode ensombrar um dos atractivos turísticos da Madeira.

Outra constatação: além dos locais de observação da vista em segurança, os sete locais onde passámos dão acesso a zonas não resguardadas, sem sinalização de aviso ao perigo e, em alguns, há um convite velado à exploração das arribas das falésias.Por fim, não há que esquecer a natural prudência de quem procura estes locais. E, pelo que observámos, há quem arrisque, mesmo não conhecendo o terreno ou as condições atmosféricas propiciadoras de acontecimentos trágicos como o já referido.

Cabo Girão, Fajã dos Padres, Ponta do Pargo, Santa do Porto Moniz, Seixal e Faial foram os locais onde notámos o potencial perigo e onde milhares acodem todos os dias da semana, todas as semanas do ano, há muito tempo.

À questão: "Não assusta estar à beira do precipício?", normalmente a resposta é: "Sim, assusta! Mas é preciso ter cuidado" ou "nem por isso. Não me aproximo da berma, pois sei que o azar pode acontecer". Estas foram algumas das respostas que fomos recolhendo.

A pior de todas as constatações é que, de facto, há uma notória falta de manutenção destes pontos turísticos. Temos um recente e bom exemplo, no miradouro do 'Véu da Noiva', onde foi construída uma plataforma em cimento e ferro que, aparentemente, garante a segurança dos visitantes.

No farol da Ponta do Pargo, temos um caso parecido com o do Caniçal. Após o muro de cimento, toda a gente percorre um trilho que vai dar à falésia. A vista é arrebatadora, mas o perigo é uma realidade que nunca pode ser descurada. Nos outros casos, a falta de limpeza e muita coisa por arranjar ou melhorar seriam obra não visível, mas essencial a quem de direito.


"Diário de Notícias da Madeira" - 07-09-2007

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Chico Buarque - Construção

Pra mim, dos melhores "cantautores" de sempre. Paixão antiga...

Maria Bethânia -

A versão da Bethânia. Porque há coisas intemporais...

Nã vou!!

Cântico Negro - Poemas de Deus e do Diabo- José Régio

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:

Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!

Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde

Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,

Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi

Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós

Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,

Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!

Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou - Sei que não vou por aí!

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

«Teremos ainda Portugal?»

Este artigo, escrito por um Bispo, tem a minha admiração. Pela verdade contundente, pela lucidez da análise a este país.

"O título tem um tom provocatório, mas eu vou justificar. Não digo que esteja para breve o nosso fim de país independente e livre. Mas, pelo andar da carruagem, traduzido em factos e sintomas, a doença é grave e pode levar a uma morte evitável. Aliás, já por aí não falta gente a lamentar a restauração de 1640 e a dizer que é um erro teimarmos numa península ibérica dividida. De igual modo, falar-se de identidade nacional e de valores tradicionais faz rir intelectuais da última hora e políticos de ocasião. O espaço nacional parece tornar-se mais lugar de interesses, que de ideais e compromissos.
Há notícias publicadas a que devemos prestar atenção. Por exemplo: um terço das empresas portuguesas já é pertença de estrangeiros; 60% dos casais do país têm apenas um filho; vão fechar mais cerca de mil escolas ou de mil e trezentas, como dizem outras fontes; nas provas de Língua Portuguesa dos alunos do básico, os erros de ortografia não contam; o ensino da história pouco interessa, porque o importante é olhar para a frente e não perder tempo com o passado; a natalidade continua a descer e, por este andar, depressa baterá no fundo; não há nem apoios nem estímulos do Estado para quem quer gerar novas vidas, mas não faltam para quem quiser matar vidas já geradas; a família consistente está de passagem e filhos e pais idosos já não são preocupação a ter em conta, porque mais interessa o sucesso profissional; normas e critérios para fazer novas leis têm de vir da Europa caduca, porque dela vem a luz; a emigração continua, porque a vida cá dentro para quem trabalha é cada vez mais difícil; os que estão fora negam-se a mandar divisas, por não acreditarem na segurança das mesmas; os investigadores mais jovens e de mérito reconhecido saem do país e não reentram, porque não vêem futuro aqui; a classe média vai desaparecer, dizem os técnicos da economia e da sociologia, uma vez que o inevitável é haver só ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres; os políticos ocupam-se e divertem-se com coisas de somenos; e já se diz, à boca cheia, que o tempo dos partidos passou, porque, devido às suas contradições, ninguém os toma a sério; a participação cívica do povo é cada vez mais reduzida e mais se manifesta em formas de protesto, porque os seus procuradores oficiais se arvoram, com frequência, em seus donos e donos do país e fazedores de verdades dúbias; programa-se um açaime dourado para os meios de comunicação social; isolam-se as pessoas corajosas e livres, entra-se numa linguagem duvidosa, surgem mais clubes de influência, antecipam-se medidas de satisfação e de benefício pessoal…
Não é assim, porventura, que se acelera a morte do país, quer por asfixia consciente, quer por limitação de horizontes de vida? É verdade que muitos destes problemas e de outros existentes podem dispor de várias leituras a cruzar-se na sua apreciação e solução. Mais uma razão para não serem lidos e equacionados apenas por alguns iluminados, mas que se sujeitem ao diálogo das razões e dos sentimentos, porque tudo isto conta na sua apreciação e procura de resposta.
Há muitos cidadãos normais, famílias normais, jovens normais. Muita gente viva e não contaminada por este ambiente pouco favorável à esperança. Mas terão todos ainda força para resistir e contrariar um processo doentio, de que não se vê remédio nem controle? Preocupa-me ver gente válida, mas desiludida, a cruzar os braços; povo simples a fechar a boca, quando se lhe dá por favor o que lhe pertence por justiça; jovens à deriva e alienados por interesses e emoções de momento, que lhes cortam as asas de um futuro desejável; o anedótico dos cafés e das tertúlias vazias, a sobrepor-se ao tempo da reflexão e da partilha, necessário e urgente, para salvar o essencial e romper caminhos novos indispensáveis. Se o difícil cede o lugar ao impossível e os braços caem, só ficam favorecidos aqueles a quem interessa um povo alienado ao qual basta pão e futebol…
Mas não é o compromisso de todos e a esperança activa que dão alma a um povo?"
(um artigo de D. António Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro)

Cá pra nós...


Qualquer relacionamento de qualidade, pressupõe uma tremenda facilidade e à vontade para conversar. Sobre o que quer que seja. Até porque é o “motor” que move o corpo e o desejo. Senão, enganámo-nos. Salte-se fora.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Publicidade Unicef - Contra o trabalho infantil



Ai, ai...


Saudade
Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos magoa,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam, é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade: aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades, passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
Pablo Neruda

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Fantástico!!

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Vanessa da Mata Boa Sorte/ Good Luck - Clipe Original

Não sou de Top's mas gosto desta música...

manu chao (clandestino)

Tou sem tempo pró blogue. mas deixo uma musiquinha boa...

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Forest Whitaker


Realmente este homem não está nos cânones da boniteza. No entanto, poucos discordarão tratar-se de um actor genial, com desempenhos magníficos, tornando-se por isso um homem muito interessante. Que um homem faz-se mais de alma que de corpo.

Hasta siempre!


Gosto de revolucionários, de homens com sonhos.
As músicas da minha adolescência eram as cantigas de Abril. A rádio inculcava-nos gaivotas, o povo unido, o cão raivoso… Talvez por isso a minha inclinação por trovas de intervenção e heróis vermelhos. Não resisto a Salgueiro Maia, trauteio Sérgio Godinho e imagino o Che a calcorrear as montanhas...
Gosto sempre de ouvir aquela canção que diz:
Aquí se queda la clara,
la entrañable transparencia,
de tu querida presencia
Comandante Che Guevara

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Vou até ali...

Digam-me lá!


Só me apetece citar o Agostinho da Silva:
"Nascemos de graça, depois passamos a vida inteira a pagar. A pagá-la. A vida. Mas isto faz algum sentido?"

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Honey, I'm home!!


Pois, bem sei que não deu pra despedidas, mas aqui estou de volta.
Nã, este blogue ainda tá vivo!
O mesmo não direi do estado deste país. Aqueles que andam distraídos com as tolices próprias da estação não se dão conta. E são tantos...

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Cesária Évora / Cesaria Evora - Sodade (live)

Saudades de ouvir isto...

terça-feira, 10 de julho de 2007

Valeu!







Ando sem tempo, é mesmo só pra dizer que foi muitoooo bommmmmmmm...

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Love it or hate it?





Campanha da Marmite,vencedora do Leão de Prata, em Cannes
http://www.marmite.com/

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Até Jazzzz!



A partir de hoje e até sábado, a Quinta Magnólia acolhe o Funchal Jazz. O festival já vai na 8ª edição e a 'ementa', a exemplo dos anos anteriores (apesar da crise), é 'apetitosa'.

O arranque do programa desta noite (às 21h30) é da responsabilidade do projecto Mad Fun Group, composto por Luís Filipe (guitarra), Carlos Santos (piano), Gueorgy Titov (baixo) e José Pereira 'Rocé' (bateria), que se apresenta com um convidado especial -Rick Margitza, credenciado saxofonista americano. E para encerrar o programa irão subir ao palco Joel David Holmes (piano), Wayne Batchelor (contrabaixo), Kinah Boto (bateria) e Beverly Botsford (percussão) para acompanharem Nnenna Freelon, uma das divas do jazz que tem actuado, nomeadamente, com Ray Charles, Ellis Marsalis e Al Jarreau.

A evocação de Paulo Correia, pianista madeirense falecido a 1 de Fevereiro, marca o início da segunda noite do Funchal Jazz. "O Paulo, além de ser uma das melhores pessoas que conheci na vida, era um amante da música e mais concretamente do jazz e da bossa nova", escreveu Bruno Santos, guitarrista madeirense reconhecido como uma das figuras do jazz português. E como o espectáculo tem de continuar, Carlos Carli (bateria), com Diego Urcola (trompete), José Reinoso (piano), Jaime Muela (saxofones/flauta), Javier Colina (contrabaixo), irá espalhar o 'perfume' do jazz latino. Depois, as atenções voltam-se para os Roomful of Blues, um colectivo de oito músicos formado há quase 40 anos cujas actuações 'incendeiam' as plateias.

Ithamara Koorax e os San Francisco Jazz Collective são a proposta para o encerramento. Nascida no Rio de Janeiro e reconhecida pela 'Down Beat' uma das quatro melhores intérpretes de jazz do mundo, Ithamara Koorax tem uma discografia de luxo e colaborações com os melhores músicos. Já que referimos músicos, atenção aos San Francisco Jazz Collective, liderados por Joe Lovano(saxofone), que se faz acompanhar por mais sete mestres no ofício de interpretar bom jazz.

Após os concertos na Quinta Magnólia arrancam sessões no 'O'Briens Pub', animadas por 'Rafa 4andMore', que se prolongam pela madrugada. Uma feira do disco de jazz & blues (Quinta Magnólia) e uma prova de vinhos da Madeira, no dia 7 de Julho, às 17h30, no 'O'Briens Pub', complementam as acções paralelas do 8º Funchal Jazz.
Let's gooooooooooo....

quarta-feira, 4 de julho de 2007

cinema paradiso

Cinema Paraíso, de Giuseppe Tornatore. Que também é um dos filmes da minha vida.

Uma grande e emocionada homenagem ao cinema ou, como li algures numa crítica, uma carta de amor à influência do cinema nas nossas vidas. Para os mais velhos, é impossível não encontrar enormes semelhanças entre o ambiente do cinema da vila siciliana e a atmosfera dos pequenos cinemas de província portugueses, há muitos anos.

Esta é a maravilhosa cena final, uma das tais cenas da minha vida. Boto lágrima sempre, é infalível. A música de Ennio Morricone ajuda.

terça-feira, 3 de julho de 2007

...escrevi porque às vezes é preciso contrariar certas vontades...

Como água para chocolate


Já é velhinho este livro da Laura Esquível, no qual o México profundo do início do século passado serve de cenário à história de um amor impossível, apenas satisfeito através do estímulo de um dos sentidos: o paladar.
Na impossibilidade de Tita consumar o seu amor por Pedro, pela tradição que forçava a filha mais nova a ficar sempre solteira para cuidar da mãe na velhice, a bela jovem vai consumá-lo da forma mais original. É através dos aromas inigualáveis que saem da sua cozinha e que provocam estranhas sensações de prazer a quem prova estas iguarias que Tita se relaciona com Pedro.
Além da sedutora e original história de amor através da rica culinária, cada capítulo começa com uma receita. Para experimentar os apurados sabores mexicanos. Especialmente indicado para bons gourmets.
O livro foi adaptado ao cinema por Alfonso Arau, em 1992.
E deste livro eu digo: Quem me dera nunca ter lido, só para poder ler como quem nunca leu!

Não me apetece escrever nem coisas nem outras.
Não me apetece blogs.
Não me apetece.
Acontece.

Mas apetecia-me ir às Desertas...

sexta-feira, 29 de junho de 2007

All that jazz


Daqui a um mês o Funchal vai respirar Jazz por todos os poros. De 5 a 7 de Julho os apreciadores ou puramente curiosos irão encher os jardins da bonita Quinta Magnólia para desfrutar da boa música que ali se vai ouvir e ver tocar.

Para informação completa sobre o festival: http://www.funchaljazzfestival.com/

Já alguma vez ouviu Lonnie Brooks ou Dee Dee Bridgewater deitado num tapete de relva com um céu de estrelas por cima da cabeça? Nós já e recomendamos a experiência...

ultimato!

Só tens um país - ama-o ou deixa-o.


O último a sair apaga as luzes do aeroporto!

Ctrl + Alt + Del


Com as sensibilidades com que andam certos políticos, não me admirava nada se qualquer dia silenciassem os bonecos do “contra Informação”.
Era ver a bonecada toda ir em cana!
É caso pra dizer: parem o país, que quero sair já nesta paragem!

quinta-feira, 28 de junho de 2007

quero...



Quero uma vida em forma de espinha
Num prato azul
Quero uma vida em forma de coisa
No fundo dum sítio sozinho
Quero uma vida em forma de areia nas minhas mãos
Em forma de pão verde ou de cântara
Em forma de sapata mole
Em forma de tanglomanglo
De limpa chaminés ou de lilás
De terra cheia de calhaus
De cabeleireiro selvagem ou de edredon louco
Quero uma vida em forma de ti
E tenho-a mas ainda não é bastante
Eu nunca estou contente
Boris Vian

http://www.maggietaylor.com
(não consigo por no link!)

LE METEQUE - GEORGES MOUSTAKI

terça-feira, 26 de junho de 2007

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Qualquer semelhança...



Esta personagem tá na berra e todos sabem por quê: “Money makes the world turn around”. Mas decididamente não vou à bola com este tipo. Além de não ter evoluído nada em termos de linguagem, típica do emigrante bronco endinheirado (e ainda por cima sopinha de massa), há nele algo de pernicioso.
O "Tony Soprano" ao pé dele parece um menino do coro...

sexta-feira, 22 de junho de 2007



...e por aqui...

Fim de semana...



vou andar por aqui...

quinta-feira, 21 de junho de 2007

maria rita cara valente

Relações...

Se Eu Quiser Falar Com Deus - Elis Regina - Capela

Convicção


“Irrita-me gente certa. Desconfio de quem diz conhecer os seus limites e circunscrever-se às suas capacidades. Prefiro profundamente um plano ambicioso que tenha fracassado a um projecto mesquinho que tenha sido levado a cabo. Mais vale uma glória falhada que mil misérias conseguidas.
Não há mal nenhum em querer o céu, mesmo quando se perde o pé por causa disso."
in "Um Abraço para Mel Gibson", MEC

Perdermo-nos em qualquer coisa e por lá nos acharmos? Para mim tem um nome simples: a isso se chama felicidade.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Palavra de ordem: reciclar!



(Bem sei que disse que a pausa ia ser prolongada. Mas a pedido de várias famílias e da gnr não vou ainda. Pediram "por favor". Gostei...)