quarta-feira, 18 de abril de 2007

Não há uma relação democrática adulta entre a governação e a sociedade madeirense


Trata-se que uma relação entre um pai normativo, regulador de comportamentos, que tem aspectos positivos como a colocação de limites e exigência, mas quando atinge um ponto em que se torna um pai afectivo superprotector ou "big brother", possessivo e consumidor compulsivo de atenção, ainda por cima exigidas quase em exclusividade (quem não é a favor é contra, quem não é amigo declarado é declarado inimigo), torna-se demasiado presente. Torna-se uma relação desiquilibrada, pouco saudável e pouco estimulante para o crescimento e desenvolvimento, na potência máxima de vida, para ambas as partes.

Previligia-se a área de comunicação sentida (emotiva) e os madeirenses reagem quase sempre como uma criança submissa, que receia provocar a ira no pai. A normatividade gera, todavia, alguns rebeldes, mas poucos. Um sintoma da "criança" no madeirense é o queixume endémico. Quem se queixa procura afago e protecção. E assim se alimenta uma relação filial de (inter)dependência, sem que a idade adulta e a maturidade cheguem.

O mão de um líder forte, de um pai omnipresente e dominador, que em troca do seu empenho e protecção exige obediência, pode facilitar o exercício e controlo do poder, mas gera uma sociedade civil dependente, infantilizada, anquilosada, fechada, acrítica, sem iniciativa (capacidade empreendedora), sempre expectante e à espera que alguém lhe diga o que fazer e lhe coloque o pão na mesa. Cultivou-se a dependência e pouco a autonomia em casa, trave mestra da pessoa/sociedade adulta: em casa de autonomia política não faz sentido haver fome dessa e de outras autonomias - tem de acontecer e ser praticada - interiorizada e aprofundada - em qualquer sector da sociedade, independentemente do(s) partido(s) ou personalidade(s) que governem a Madeira.

Falta revolucionar posturas e mentalidades. Compreende-se que, face à mentalidade da sociedade madeirense, foi preciso encaixar-se nela e exercer um certo nível de controlo para tornar a Madeira governável (com estabilidade política e social), mas, passados quase 30 anos, deveriam já ter sido estimuladas - concedido espaço - determinadas mudanças (revoluções) culturais e cívicas que conduzissem a uma maturação e arejamento democráticos (desbloqueios), ao tal crescimento e expansão, na potência máxima de vida, da sociedade madeirense. Até por razões de desempenho (sobrevivência) ao nível económico.

Entretanto, no seio da nossa sociedade, não se geraram alternativas governativas e a Madeira caminha para um impasse ou alteração abrupta na governação. Esperemos que os madeirenses não acordem estremunhados e saibam agir com a maturidade democrática não vivenciada (aprendida).

Também por tudo isto, o comodismo é um atavismo regional. Como escreveu António Jorge Pinto, a «actual casta de madeirenses é de uma cepa muito mais acomodada. Sem objectivos. Sem opinião de nada e sobre nada. Gente que não se inquieta com o seu próprio quotidiano, o seu destino. As suas vidas. As vidas dos seus filhos. Gente dormente» (Tribuna da Madeira, 21 Abril, 2007).
Blog "Olhodefogo", by Nélio Sousa

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