terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Vive


Não sejas previsível. Promove a asneira. Não penses tudo, nem em tudo, até porque assim que fazes coisas já mudaste o que pensavas. Renega a normalidade, essa que nunca será por ninguém lembrada. Lembramo-nos das bebedeiras, dos enganos, das desilusões, das cenas patéticas com que nos brindámos. Promove a asneira. Ultrapassa o silêncio, ganha-lhe em velocidade, cansa-o em fundo. Estimula a timidez. Fala. Não te cales, nunca te cales. Promove a asneira. Não há receituários para criar filhos, tampouco para despistar o passado. Não existem formulários para fazer asneiras. Não sejas tão sério, sê mais “alegremente embriagado”, pois que a alegria interroga, já o ser sério afirma taxativamente. Só quem ri restitui o ar que o alimenta. Grita à janela. Berra a quem precisa de viver. Não uses agendas, post-its, nem alarmes no telefone. Mete um horário de comboio no bolso de trás. Quando chegares a casa varre os pés para o chão. Comete imprudências, caminha ziguezagueando, nunca a direito, caso contrário perdes as histórias na tua sombra. Não digas que sabes quando nem sequer ouviste o que te disseram. Mete uma pedra no bolso e leva-a a passear. Mata as saudades do que não te serviram jantando sozinho. Dorme nos filmes de autor, emociona-te nas comédias light. Ama sem contratos assinados e reconhecidos. Reconhece-te. Desengana-te. Deixa de ser o que os outros esperam que sejas. Mete uma fotografia tua numa garrafa e lança-a ao mar. Vive no domingo, volta tarde. Nunca limpes a casa à segunda-feira. Intercala expirações com beijos. Comete imprudências. Nunca ninguém se lembra da normalidade. Não tatues memórias do que não disseste, do que não fizeste. Obriga-te. Mil vezes ter coragem para mentir que medo de dizer a verdade.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Porque(?)


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Ai, ai...


Atravesso Dezembro expectante, com um peso no peito (o eco de vários natais, ais, ais, passados).
O lado emocional irrompe como granito que atravessa a carne.
A mão estica-se até tocar o rosto de Janeiro.
bem vistas as coisas,
um blogue iconoclasta dá menos nas vistas no ecrã do local de trabalho.

Artes e Rubbish(adas)


Ainda sobre o post anterior digo: é cada vez mais difícil saber quanto é que, daquilo a que se resolveu chamar 'arte contemporânea' deveria estar no lixo e quanto é que, do que se perdeu no lixo, se lamenta que não esteja num museu.

Fazer dinheiro é arte


Damien Hirst ao lado de Anatomy of an Angel, na Sotheby's

«Quando, em 1494, o banco Medici faliu em Florença, os artistas e pintores a que a família generosamente encomendava trabalhos entraram em pânico. Acabara o mecenato. O banco Medici falira, devido à depressão económica e à agressão francesa. Tudo mudou. Enquanto bancos vão à falência, enterrando um modelo de negócio, nunca a arte conheceu dias tão rentáveis. Parece um paradoxo. O Lehman Brothers não conseguiu atrair dinheiro fresco e, ao mesmo tempo, em Londres, a Sotheby's continuava o seu leilão de 223 novas obras do artista Damien Hirst, tendo até agora atingido um valor de vendas de 126 milhões de euros. Isto é, quando falta liquidez para salvar um banco, há dinheiro a mais para comprar obras de arte que ainda não foram testadas pela sensatez do tempo. Um banco vale, hoje, menos do que as obras experimentais de Hirst. Isto é, uma obra cujo valor é garantido pela subjectividade é hoje considerada um investimento mais seguro do que um banco de investimento. Para além do leilão modificar radicalmente as regras de negócio das obras de arte, ele perpetua duas lógicas: a que começou nos anos 60, em que a arte começou a ser considerada um investimento, e, nas palavras de Andy Warhol, que "fazer dinheiro é arte e trabalhar é arte e bons negócios são a melhor arte". Donde quase se poderia dizer que a subjectividade da arte venceu a subjectividade dos produtos financeiros derivados. Os artistas derrotaram aqueles que foram os seus mecenas? Será esta a nova forma de negócio que aí vem?»
Fernando Sobral, A arte e a finança, hoje, no Jornal de Negócios


sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Nataljaking!


Mais uma vez o meu pesadelo natalício repete-se.
Esta moda grotesca de pôr pais natais pendurados nas janelas e varandas, qual gang em pleno assalto, tira-me do sério. Detesto! E o pior é que veio pra ficar. Natal após Natal. A melhor descrição deste pesadelo é mesmo a palavra repetição.
O Natal é quando o homem quiser? Com certeza. Assim sendo, se não se importam, podiam tratar do assunto em Agosto, quando estou fora. Obrigada.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Circunspecção

Todos e cada um de nós possui, revelando-se numa específica e determinada altura da nossa vida, qualquer coisa de especial. Esta revelação acontece uma única vez, como se de uma chama se tratasse. As pessoas atentas, precavidas, conservam zelosamente essa chama, inflamam-na e usam-na qual porta-estandarte como iluminação-guia no que todos (embora de formas tão diferentes como singulares) chamam viver. Atente-se que, uma vez apagada, muito dificilmente, para não gastar nunca, se volta a acender. Não é por força de riscar fósforos numa caixa molhada que estes se vão acender…
Depois, no escuro, é difícil caminhar no breu. Torna-se insuficiente calcorrear caminhos sozinho. Tornamo-nos pobres à força de pensar nas coisas única e exclusivamente por nossa conta, limitamo-nos gravemente à nossa perspectiva.
Estar sozinho pode tornar-se uma coisa terrivelmente depressiva.
Já para aqui tinha dito que sou muito precavida?

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Deolinda - Movimento Perpétuo Associativo

RIP


Gostaria de saber quem foi o iluminado que substituiu este ícone divertido, que nos era tão familiar e a quem confiavamos os quatro números sem pestanejar, por esse outro boneco ridículo, irritante. E os estudos de marketing que não devem ter antecedido a substituição! Fazer questão de mudar pra pior. É lema deste país?

terça-feira, 25 de novembro de 2008

25 de Novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres


I can see clearly now


Andei durante uns tempos a olhar, vendo o que queria ver; não vi o que estava mesmo à minha frente
(- não será tantas e tantas vezes assim?)
porque não quis; assobiei para o lado porque precisava de conforto na minha tempestuosa vida. Precisava de conforto. Certo é que o conforto só existe num colo. E, convenhamos, o colo só o é se for mole, nunca se o não for. Ninguém se sente confortável numa pedra. Só se estiver sequioso de descanso. Só se ao invés de zéfiros na alma, o atormentarem ventos impetuosos e contínuos. Só há pouco tempo me prestei a olhar. Tarde demais? Não, fui muito a tempo. Fui muito a tempo. Fui a tempo de olhar. Curioso no meio de tudo isto é que me fizeram olhar de olhos fechados. Hoje vejo sem olhar e olho sem ver. E gosto.
Tanto.
Mesmo.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

E se Obama fosse africano? - Por Mia Couto

Um artigo do Mia Couto que gostei bastante...

Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.
Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.
Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.
Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: "E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.
E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?
1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.
2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.
3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.
4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).
5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.
6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.
Inconclusivas conclusões.
Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.
Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.
A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.
Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.
No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.
Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.

Jornal "SAVANA" – 14 de Novembro de 2008

Renascimento


Sinto-me estranha a voltar aqui.
Como se isto já não me pertencesse.
É o resultado desta longa ausência, bem se vê.
E verdade verdadeira a inspiração tem andado arredia.
Mas acredito que volte. Volta sempre.
Numa terra onde, por vezes o mundo real que me ladeia; circunscreve e atrofia, toda a espécie de desabafo é bem vinda.
Uma espécie de exercício de exorcismo…
Regresso pois.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Mais umas vistas...





Desculpem-me a ausência por aqui, mas não tem havido tempo. Prometo voltar em breve. Entretanto deixo mais umas vistas das terras dos troll's e dos elfos...


sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Fiordes da Noruega





Uma belezura...

Navegar, navegar...












quinta-feira, 31 de julho de 2008

Quase...


Tou quase a embarcar a minha nostalgia (e outras cósitas más...)

Os meus olhos anseiam outras vistas. Urgentemente.

Como diz a canção "a minha sede não é qualquer copo de água que mata. A minha sede é a sede do próprio mar".

Em relação a um pedido, gostava sim de escrever e mostrar durante, mas receio o meu egoísmo de viver cada minuto como nunca mais. Por isso não prometo nada...

Fiquem bem. Sintam-se vivos.

Um abraço especial ao "Special two", que tem muito mais a minha admiração e apreço do que o special one.
Saravá!

quarta-feira, 30 de julho de 2008

O fio da missanga


"A missanga, todos a vêem.

Ninguém nota o fio que,
em colar vistoso, vai compondo as missangas.

Também é assim a voz do poeta:
um fio de silêncio costurando o tempo."


Mia Couto

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Citação


"O que me atrai nos brincos não é as mulheres terem-nos, é o momento em que os prendem na orelha, de queixo esticado e olhos vazios. A mesma expressão, aliás, ao procurarem as chaves na carteira. Parece que se ausentam. Depois voltam a estar ali ao rodarem a fechadura."

António Lobo Antunes

At last!



Já escrevi algures neste blog sobre os navios de cruzeiro que sempre fizeram parte do meu imaginário lhéu...

E qual sonho conseguido, desta vez vou mesmo "embarcar toda a minha nostalgia insular num navio qualquer..."

Noruega, fiordes, Islândia, Irlanda...

Preferia ir como marinheira. Mas como turista é bom também.

Depois conto. E mostro.



segunda-feira, 14 de julho de 2008

Coisas simples.



Hoje que faço anos deu-me pra pensar que muito da pessoa que sou devo-o à minha infância feliz e livre. Rua da Praia; "calhau" todo o dia. Sem cremes de protecção contra nada. Chegar pró almoço (que era obrigatório), murcha da água, cansada e feliz. E à tarde apanhar lapas, caramujos... esgaçar os joelhos. E fazer birras de propósito pra ir prá casa da tia Maria. Que era no campo. Ou então fugir e apanhar boleias de táxis conhecidos. E chegar esbaforida e infeliz com qualquer arrelia à toa e encontrar a tia Maria. Mulher tão mansa, tão boa. Que nunca ralhava. A quem nunca ouvi uma palavra mais alta, uma basfémia contra a vida. E tantos filhos, tanta labuta... E a comida cozinhada a lenha. As batatas doces, a carne de porco, as couves. Os quartos acanhados mas tão frescos. E lá ficava uma semana, que era o que aguentava longe do mar. E nesse regresso ao mar, uma saudade renovada. Como se fosse acabar esse mar. Que acabava no Inverno. E saiam as botas de água e a ribeira por descobrir. Até aonde se podia ir. E parecia tão longe. E as pedras eram tronos. E havia um trono pra cada um. Porque era justo. Coisas simples. E tão boas. Que fizeram, no fundo, a pessoa que sou. E que gosto de ser.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Ivan Lins

Preferia a versão da Simone. Mas não consegui...

Vazia!


Peço desculpa a quem visita este estaminé e não encontra nada de novo. O "novo" não tem sido bom. E eu tou tão cansada..

Mas vai passar! Prometo.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Festival de Jazz do Funchal - Começa hoje!



Didier Lockwood abre quinta-feira nona edição.

O violinista francês Didier Lockwood é o cabeça-de-cartaz do primeiro dia do 9º Festival Jazz do Funchal, que se inicia quinta-feira nos jardins da Quinta Magnólia com a actuação da vocalista madeirense Angelina.
O saxofonista norte-americano Phil Woods, a vocalista brasileira Rosa Passos e o pianista cubano Chucho Valdés são os outros nomes sonantes do festival, que é organizado para a Câmara do Funchal pela empresa portuense Discantus.
A jovem cantora Angelina vai apresentar pela primeira vez no Funchal o seu CD de estreia, intitulado 'Jazz Feelings'.
A primeira noite do festival, uma quinta-feira, é encerrada por Didier Lockwood um músico ecléctico cuja carreira de 30 anos é testemunho de múltiplas influências musicais pelos mais diversos estilos musicais.
Na segunda noite do festival destaca-se a actuação do Quinteto de Phil Woods, um saxofonista da primeira linha dos últimos 50 anos de jazz que no início da sua carreira tocou com Dizzie Gillespie, Quincy Jones e Benny Goodman, entre outros.
O harmonicista francês J. J. Milteau, um bluesman virtuoso que se destaca pela energia com que se apresenta em palco, encerra, com o seu quinteto, a segunda noite do Funchal Jazz.
A abertura do terceiro dia do Funchal Jazz está a cargo da cantora e guitarrista de jazz brasileira Rosa Passos, celebrada pela crítica e pelo público pelo seu 'swing extraordinário' e pela sua voz poderosa.
Com uma carreira de 40 anos, Rosa Passos, que vem acompanhada por um grupo de músicos de grande qualidade, é celebrada nos Estados Unidos como "uma das personalidades musicais brasileiras realmente dedicadas à reinvenção da música do seu país sem preocupações comerciais".
O concerto de encerramento do 9º Funchal Jazz está a cargo do cubano Chucho Valdés, por muitos considerado, como o melhor pianista do mundo.
Senhor de uma técnica extraordinária e de uma criatividade transbordante, Chucho Valdés fundou em 1973 o grupo de jazz Irakere, com Paquito de Rivera e Arturo Sandoval, que se celebrizou pela fusão entre as linguagens do jazz, do rock e da música cubana.
Chucho Valdés, que vem acompanhado por um quinteto, tem na sua extensa discografia, algumas da mais impressionantes páginas do piano de jazz das últimas décadas.
DN Madeira - 03-07-2008

quarta-feira, 2 de julho de 2008

:: Não force nunca


Aqui deixo um conselho que lhe poderá servir para a sua filosofia:

- não force nunca

seja paciente pescador neste rio do existir.

Não force a arte, não force a vida, nem o amor, nem a morte.

Deixe que tudo suceda como um fruto maduro que se abre e lança no solo as sementes fecundas.

Que não haja em si, no anseio de viver, nenhum gesto que lhe perturbe a vida.


Agostinho da Silva

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Pontos negros (negríssimos)! Take II

A lagoa das Águas Mansas - O fim justifica os meios. Ninguém questiona a necessidade das lagoas de altitude para reter águas. Mas a fase de construção tem este impacto. A obra a cargo da IGA já está em curso, vai custar cinco milhões de euros e permitirá um reforço da adução da Estação de Tratamento de Água do Santo da Serra, garantindo o regadio agrícola no lanço Sul do canal dos Tornos. Vale pelos fins.

A ribeira da Ponta do Sol está assim - O leito estrangulado e ocupado para passar a via expresso. O mesmo acontece no Ribeiro Seco. Nos Socorridos, os apetites são outros. É a expansão empresarial, a extracção de inertes e a sua acumulação nas margens. Umas vezes legal, outras ilegal. Na ribeira do Faial e no Porto Novo a 'chaga' também fere a paisagem. Em São Vicente há montes de inertes nas margens. A ribeira da Madalena também foi massacrada.

Na Fundoa a encosta ficou neste estado. São as máquinas a esventrar a terra. Parece que o Homem quer fazer jus ao provérbio japonês: 'As dificuldades são como as montanhas. Elas só se aplainam quando avançamos sobre elas'. MAL! ...

O vale do Porto Novo está neste estado - Há outras pedreiras e britadeiras: junto ao Parque Ecológico e na Fundoa (Funchal); ribeira dos Socorridos; João Frino (Santa Cruz); Caniçal, junto à saída do túnel e mais a leste; ribeira do Faial; Malhadinha (Canhas); zonas altas do Estreito de Câmara de Lobos; ribeira da Fundoa (Prazeres), etc..

Águas Mansas, aterro projectado, desfasado da realidade. Estão expectantes/abandonados/suspensos outros aterros, como na Chaga do Ponto (Canhas) -proponente abandonou a intenção; Lanço de Água (Canhas); Curral dos Burros (São Vicente) - suspenso; Bacelo (Caniçal) - proponente aparentemente desinteressou-se; Linhares (Porto Santo). Em licenciamento: Eira das Moças (Campanário) e Cardais (Água de Pena).

Aterro da Herdade da Achada Grande - A propriedade da Fundação Social Democrata compactou cerca de 930 mil m3 de terra. Os taludes acompanham o relevo, ao contrário de outros. Há aterros, em execução, nas Carreiras; Malhadinha (antiga lixeira); Lombo do Coelho (Prazeres); Cabeço do Moinho e Chão do Bardo (Pt.º Moniz); Cardais e Javarina (Machico), entre outros.
Britadeiras
Confundem-se com pedreiras. São autênticas chagas na paisagem. Os vales do Porto Novo, Socorridos e Ribeira do Faial são os mais sacrificados.
Aterros
São 27, na Madeira e P. Santo, monitorizados pelo Direcção de Projectos de Intervenção Ambiental. Uns 100% concluídos, outros com capacidade para mais m3 de terras.
Ribeiras
São as mais massacradas. Onde há um vale há mão humana. Faial, Socorridos, Santa Luzia, Porto Novo, Ponta do Sol, Madalena do Mar são sintomáticas. Intervenções Humanas.
O impacto visual entra pelos olhos dentro. São prédios, viadutos, obras megalómanas que, legais ou ilegais, ferem a paisagem.

Pontos negros (negríssimos)!

Lá do alto, é irrelevante se o aterro, a pedreira, a extracção de areia ou a intervenção urbanística são legais ou ilegais. O que salta aos olhos é o impacto visual da acção humana no território.

O DIÁRIO sobrevoou parte da ilha da Madeira a bordo do helicóptero da 'Heliatlantis' (durante uma hora) e parte do resultado é o que as imagens documentam. Foi uma 'Flying Experience' à procura dos 'pontos negros' na paisagem. Inventariámos 52 zonas vulneráveis.

De saída do Funchal rumo a Oeste, salta à vista o quarteirão do 'Funchal Centrum'. Segue-se o Ribeiro Seco. A construção da via expresso para o porto do Funchal está a estrangular o ribeiro e a deixar marcas na paisagem. No vale, a montante, é visível a construção em zona verde urbana de protecção. Os picos dos Barcelos e das Romeiras, cada vez mais cobertos de construção.

Aproxima-se a central termoeléctrica dos Socorridos. As chaminés deitam fumo sem tratamento dos gases poluentes. Mas o problema mais grave é a montante: a extracção de inertes, e a sua acumulação nas margens, vai ribeira dentro quase até ao Curral das Freiras.

Passado o Cabo Girão, do mar, é visível a ausência de integração paisagística da via rápida, na zona do Campanário. Mais à frente avista-se a descaracterização do litoral com enrocamentos marítimos na Ribeira Brava e Ponta do Sol. Adivinha-se o mesmo na Calheta. Entre túneis da estrada antiga (Pt.ª do Sol/Madalena) o Homem esventra a rocha.

Sobe-se o vale da ribeira da Ponta do Sol. Outra intervenção humana (via expresso para os Canhas) que deixa marcas na paisagem. Ribeira estrangulada e ocupada. Contrastes de verde e castanho. Lá ao fundo o grande impacto da pedreira da Malhadinha (Canhas). Para lá do horizonte adivinha-se outros cenários: pedreiras na ribeira da Fundoa, Prazeres; pastoreio de gado bovino no chão do Fanal (a destruir tis seculares); espécies exóticas a ameaçar a Laurissilva na Boaventura.

Rumo a Leste. Agora pelo interior. O parque empresarial da Ribeira Brava surge-nos pela frente. Segue-se o aterro do pau branco, Câmara de Lobos. Depois, a pedreira no Estreito, à beira do vale dos Socorridos.

Na ribeira de Santo António, um amontoado de empresas. Na Fundoa, pedreiras e aterros. Onde está o tampão verde! Outra pedreira junto ao Parque Ecológico em expansão é bem visível do Funchal. Britadeira a rivalizar com N.ª Sr.ª da Paz (Terreiro da Luta). Estádio do Nacional construído em zona florestal.

Segue-se o aterro da Fundação Social Democrata. Taludes bem organizados a contrastar com o aterro logo abaixo do restaurante 'Abrigo do Pastor', desorganizado. Quatro estradas, antiga lixeira da Meia Serra, Águas Mansas. Aqui, duas intervenções brutais. A construção da lagoa de retenção de águas e um aterro ali ao lado (desfasado da realidade). A pedreira e a britadeira de João Frino a roçar o Parque Natural. Lá de cima, não se vê nem se sente os efeitos das descargas de dejectos de agro-pecuária no Santo da Serra.

Adivinha-se o que virá mais à frente: aterro junto à Aldeia da Paz; aterro de Água de Pena (Cardais); pedreira do Caniçal, junto à saída do túnel; extracção de inertes na ribeira do Faial.

Rumo ao sul. Vale do Porto Novo. Uma lástima com pedreiras e britadeiras. Aterro marítimo do Porto Novo, Garajau, Funchal. Pressão urbana. Casas à beira de precipícios.
DN Madeira - 30-06-2008

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Grafittis de Bansky

Robert Banks, mais conhecido por Bansky é um inglês que grafita nas ruas de Londres e em muitas outras cidades espalhadas pelo mundo fora. As suas obras de arte são muitas vezes satíricas e incluem temas como a política, a cultura, a ética. A sua arte de rua combina o grafitti com uma técnica única de stencil.





quinta-feira, 26 de junho de 2008

Typolution

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Châmume Silêncio e sô bontipu




Banda desenhada de Didier Comés conta uma história sensível e de uma terna melancolia, sobre um jovem mudo e deficiente mental cuja inocência choca com a intriga e a perversidade da aldeia perdida da França profunda em que vive.
Através de uma descrição desencantada da França rural, em que a ignorância e obscurantismo se misturam com a magia e a superstição, Comés criou uma intriga inesquecível, em que os traumas da perda da inocência se misturam com os prazeres da descoberta do amor. Mas que é também uma história de vingança e, antes de tudo, um libelo acusatório contra os que usam a violência como arma do ódio contra a diferença; em especial contra a diferença que não se consegue manipular.
Um mergulho no preto e branco. Intenso. Uma paixão imediata. É um livro que se sente a cada página, desenhos que gritam e entranham em nós. Um silêncio que ensurdece. Um silêncio que dói.
Por tudo isso, "Silêncio" ocupa um lugar especial no meu imaginário.

"E vocês dirão para vós mesmos que um tipo assim é demasiado fantástico para ser verdadeiro" - que é 'Silêncio'. "Se vocês acreditam no esterco, na noite espessa, é preciso acreditar também no dia límpido, porque eles andam juntos. É preciso acreditar em Silêncio".
Prefácio de Henri Gougaud