segunda-feira, 31 de março de 2008

Cartas de amor ridículas

Quem as não tem?
Tenho saudades de recebe-las.
Não há emails, não há msn, não há sms que as substituam...



Há notícias que nos fustigam...



quinta-feira, 27 de março de 2008

Ideias imaginosas


























Batemos no fundo


Governantes, pais e professores saem muito mal do "filme" da sala de aula do Carolina Michaelis. Uma aluna aos gritos, batendo na professora e tratando-a por tu, uma turma inteira satisfeita e gozando com a desordem e com a incapacidade da professora - "a velha" - , tudo isto é um retrato mau do estado a que deixamos chegar a situação.

Os pais acomodam-se com o recibo da propina que pagam à escola, como se a sua responsabilidade acabasse aí. Os filhos são entregues à escola, onde entram e saem com ligeiras e rápidas passagens por casa, para comer e dormir. Casas onde não se discute problema nenhum e nada se questiona. Casas onde muitas vezes nem tempo há para se falar, conversar.

Nas escolas, as regras são o que se sabe. Seriam assim tão maus os tempos em que os alunos se levantavam quando o professor entrava na sala? Seria assim tão penoso o silêncio que se fazia enquanto o professor falava? Seria assim tão pouco natural que um aluno fosse posto fora da aula se estivesse a perturbar os colegas e o professor? Seria assim tão fora do senso comum que um estudante que não tivesse aproveitamento fosse obrigado a repetir o ano?

Porque mudaram as leis, porque deixámos as coisas cair neste "deixa andar"?

O 25 de Abril, que nos trouxe a liberdade, levou, nos tempos revolucionários, regras que eram boas mas que voaram com o lixo fascista. Os tempos revolucionários passaram, vieram tempos democráticos, ministros de todos os partidos e o edifício escolar nunca se compôs, nunca foi capaz de responder aos desafios da democracia.

O filme vergonhoso do Carolina, que infelizmente não é nem caso isolado nem o mais grave, deve encher-nos a todos de tristeza. Pura e simplesmente somos uma sociedade que não sabe educar os seus filhos, que não tem nem valores nem referências para lhes dar. Batemos no fundo. E enquanto não conseguirmos restaurar a autoridade na escola, não sairemos da cepa torta.

JNLisboa 23-03-2008 - À letra, José Leite, Pereira, Director

Free Tibet!




À procura da atenção distraída do mundo!!



Não costumam manifestar-se, a não ser pela oração ou pelos retratos do Dalai Lama, em que este parece estar sempre a sorrir mesmo quando está sério. Como tantos emigrantes e exilados, os tibetanos de Goa, e da Índia, são invisíveis.
Este ano, os Jogos Olímpicos mudaram tudo. E concederam-lhes a oportunidade da atenção distraída do mundo.
Os tibetanos não falam, não dão entrevistas, protestam pacificamente a sua causa e a sua razão. Uns turistas tiram fotografias, outros recolhem a cabeça enjoados com as fotografias, um silêncio culpado, colectivamente culpado, desce sobre a multidão. Nada mais distante dos corpos suados e perfeitos dos atletas do que aqueles corpos aos quais foi negada uma identidade na morte.
Vítimas sem nome e sem rosto, longe num reino do meio dos Himalaias, expostas assim aos olhares ocidentais como testemunho de violações de direitos humanos que poriam muita gente aos gritos se a China não fosse a grande e poderosa China.
Os tibetanos lá estão, entoando um cântico pacífico que só pede uma coisa: olhem para nós. Olhem para isto.
"Expresso"

quarta-feira, 26 de março de 2008

O dia em que fuzilaram o guarda-redes da minha equipa


Nós éramos os do muro, sentadiços. Os outros corriam os futebóis, dispensavam suores. Enquanto nós, não. As meninas passavam, com suas batas brancas, pareciam aprendizes de garças. Os outros perseguiam-nas caçando simpatias. Nós ficávamos no muro, olhos trincando as sombras femeameninas.

Nosso futebol era ali, na mesa de matraquilhos do Bar Viriato. A mesa de jogo dormia fora do bar, ao dispor do luar que tombava no pátio. Era tão pesada que nenhum ladrão punha nela sua cobiça. Os roubadores daqueles tempos tinham dedos tremedrosos, eram gente de pequeno empreendimento.

Naquele pátio do Bairro Matacuane ficava o estádio do nosso encantamento. Era ali que vibravam as nossas multidões quando a pequena bola de madeira escorrecaía no buraco da baliza. Mas nós, sem idade e com as raças todas à mistura, só podíamos frequentar o imaginário relvado no intervalo dos outros. A mesa de matraquilhos era nossa só quase às vezes. No resto, pertencia aos tropas, soldados que abundavam por aqueles lados. O Viriato ficava na fronteira dos mundos, subúrbio dos subúrbios.

Sempre quando há quartéis, os bairros perdem seus nomes civis. E o nosso lugar era agora chamado de Zona do Quartel. Com o novo nome vieram as prostitutas e encheram os bares com suas grandes pernas cruzadas. Mesmo em nossos sonhos aquelas pernas se descruzavam sob lençóis que transpiravam. Por isso, nossos pais já não permitiam que muito parássemos pelos lados do Bar. Os receios deles careciam de fundamento. Nós só entrávamos no exterior. Lá dentro, apenas nossa curiosidade espreitava.

Mas a brincadeira dos matraquilhos custava cada vez mais preço. A moeda roubávamos lá em casa descarteirando eu de meu pai e Nandito não se sabe de onde. A moedinha abria o momento mágico. A gente metia na ranhura e a máquina expedia suas nove bolinhas, já tão gastas que coxeavam em cada volta de seus épicos percursos.

Foi quando se deram os casos chamados para estória. Primeiro acharam graça: apareceu um dos bonequinhas pintado de preto. O avançado do centro da minha equipa tinha mudado de raça, da noite para a madrugada. Os soldados portugueses, quando chegaram, fizeram riso e alcunharam o novo matraquilho de Eusébio.

Depois, apareceram mais três avançados, subitamente transcoloridos. Ainda encontraram piada, anedotaram. Distribuíram mais nomes: Coluna, Vicente, Matateu. Só o dono do bar é que ventilou ameaças: se descubro o sacaria do pintor, ai de quem!

Um dia a mesa amanheceu com todos os jogadores de raça negra. No Bar Viriato, bem luso de seu nome e propriedade, figuravam os matraquilhos mais africanos do mundo.

Eu e Nandito apresentámo-nos bem cedinho, madrugada recém-estreada. Não tocámos no jogo, ficámos espectadores. Olhávamos as gotinhas de cacimbo, rebrilhando nas botas dos bonequinhos.

Até que surgiram os tropas, barulhosos, donos. Chegaram-se aos matraquilhos e trocaram suas admirações. Dessa vez, ninguém riu. Ao inverso, havia uma raiva partilhada que multicrescia. De repente, um dos soldados se deu de berrar salivando raivas. Os outros tentavam de acalmar-lhe as fúrias. Mas nada, o homem se atestara de ódios. Súbito, retirou do cinto uma pistola e em volta fechou-se o silêncio, solene. Parecia cinema, o Nandito olhava de espanto cheio: aquilo já não era Viriato, era o saloon. E aquele soldado acenando a pistola era o Clint Eastwood, o Rambo dos tempos. Quem sabe foi por causa desse estado de maravilhação que o Nandito não ouviu gritarem quando o soldado louco apontou sobre o guarda-redes da minha equipa. O tiro soou e o pequeno boneco esvoou, salpicando estilhaços, mais súbitos que o sangue.

Ainda hoje aquele tiro continua ressoando em minha vida, junto com esse outro grito que, por engano de um relâmpago, me pareceu sair do bonequinho alvejado.
Mia Couto

Sossego bom... Valeu!



segunda-feira, 17 de março de 2008

Hasta!

A ver se volta mais inspirado...

quinta-feira, 13 de março de 2008

Oh la la...


Enquanto esperam, oiçam uma musiquinha francesa que é som que não passa nas rádios. Infelizmente.

terça-feira, 4 de março de 2008

Navegar, navegar...


Estes navios de cruzeiro sempre fizeram parte do meu imaginário ilhéu...
Tinha um amigo que dizia: "Há três espécies de homens: os vivos, os mortos e os marinheiros".
Eu quero ser marinheira!
Viva, viva!!