sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Da comovente humanidade nossa


O que há de mais comovente em alguém são os medos disfarçados, implícitos ou negados, admitidos num acto extremo de cumplicidade e desamparo. Ou os pecados gozosos, dolorosos, gloriosos, mortais, veniais, vergonhosos, claro, confessados e com convite subentendido a partilhar, elaborar, dividir a culpa que deixamos de sentir, rir juntos, aperfeiçoar, aprender requintes e nos absolvermos mutuamente. Ou os vícios inofensivos ou perigosos, ou as inseguranças, ah meu deus, que lindas são as inseguranças, aquelas medidas das potências tão menores e insuspeitas, que nos aproximam e nos deixam reconhecer por trás do personagem calculista e frio.
O que há de mais comovente em alguém é a sua própria humanidade admitida e compartilhada, sem receio de que o outro faça disso uma arma mortal, mas ao contrário, com o desejo quase descrente de encontrar o eco de um mesmo grito, a sede de uma outra sede igual, o reflexo familiar do outro lado do espelho.

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