quarta-feira, 21 de maio de 2008

do vazio que fica...


À minha mãe

A notícia estremeceu-me, paralisou-me de aflição.
Eu já nada ouvia para lá do próprio coração.
Eu era uma criança parada nas horas tristes com o mar sempre em fundo.
Uma criança no medo. Calada, silenciosa. Com pressa para chegar, para só acreditar, apenas vendo.
Um enorme travo de amargura. Um choro sem consolo.
O teu rosto era para mim o rosto dessa ilha. Como um cais para os regressos. Alguma melancolia.
As plantas que tanto amavas ficavam a fazer menos sentido, ou nenhum sentido.
Quando chamo por ti, fica um silêncio como uma pedra imensa. Estás comigo, mas ficaste no assombro da ilha.
Alguns sítios, como esses paraísos da infância, perderam a luz. Talvez um dia se acendam, mas não sei.
Já não falas (tão magoadamente!), não posso apertar a tuas mãos sempre frias, dizias.
Para onde foi o teu olhar magoado, às vezes tão vencido?!
Na última vez que te falei, pelo telefone , dei-te uma boa notícia, do teu neto mais querido. Ficaste feliz, eu sei. Sorriste (não foi imaginação minha).
Agora já não me atendes o telefone, com a tua voz triste, aflita, virada para dentro de ti.
Morreste-me e eu cheguei atrasada. Dois dias atrasada. Podias ao menos ter esperado por mim.
Estás, às vezes, nesse palacete, nesse jardim de estátuas irreais e tão feias onde ias envelhecendo, entristecendo, mas onde íamos ver os barcos e o mar. E eu tentava convencer-te de como era bom viver. Nem sempre acreditavas, eu sei.
Por vezes, o teu rosto iluminava-se. Sorrias e parecia-me que quase acreditavas.
Bate depressa, o meu coração.
O tempo passa-nos, impiedosamente, por cima.
Ficámos lá, imóveis, na fotografia dentro da moldura. Seríamos felizes sem o sabermos...
Como regressar às raízes se já não estás para ensinar-me o caminho?
Se eu pudesse, por ti, derramava uma lágrima de cristal.
Descansaste, finalmente e, como sempre, as tuas mãos (tão parecidas com as minhas)estão frias e serenas. O teu rosto nunca deixou de ser belo. E triste.
A imensa saudade, uma saudade sem cura, quando nunca mais te posso ver e perguntar por ti, já não faz qualquer sentido. É apenas um buraco negro.
Desaparecerás como as árvores, as flores e as casas. Não sei para onde foste. Vou procurar-te nas noites estreladas do outro lado do céu.
Bate depressa o meu coração.

Graça Vasconcelos - Maio 2008

1 comentário:

carmo brazao disse...

Mais uma vez PARABÈNS!!!

A Mãe Madalena, era um pessoa especial. Recebia-nos sempre de braços abertos, e tinha sempre uma conversa amiga. Encontrava-a muitas vezes no Funchal, e notava a alegria que ela sentia, ao ver-me, e falava com verdadeiro amor dos seus filhos. Aquele olho azul dizia muito.
Beijos grandes
Carmo