segunda-feira, 14 de julho de 2008

Coisas simples.



Hoje que faço anos deu-me pra pensar que muito da pessoa que sou devo-o à minha infância feliz e livre. Rua da Praia; "calhau" todo o dia. Sem cremes de protecção contra nada. Chegar pró almoço (que era obrigatório), murcha da água, cansada e feliz. E à tarde apanhar lapas, caramujos... esgaçar os joelhos. E fazer birras de propósito pra ir prá casa da tia Maria. Que era no campo. Ou então fugir e apanhar boleias de táxis conhecidos. E chegar esbaforida e infeliz com qualquer arrelia à toa e encontrar a tia Maria. Mulher tão mansa, tão boa. Que nunca ralhava. A quem nunca ouvi uma palavra mais alta, uma basfémia contra a vida. E tantos filhos, tanta labuta... E a comida cozinhada a lenha. As batatas doces, a carne de porco, as couves. Os quartos acanhados mas tão frescos. E lá ficava uma semana, que era o que aguentava longe do mar. E nesse regresso ao mar, uma saudade renovada. Como se fosse acabar esse mar. Que acabava no Inverno. E saiam as botas de água e a ribeira por descobrir. Até aonde se podia ir. E parecia tão longe. E as pedras eram tronos. E havia um trono pra cada um. Porque era justo. Coisas simples. E tão boas. Que fizeram, no fundo, a pessoa que sou. E que gosto de ser.

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