sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O elixir da eterna juventude


O tempo é imparável, corre com tempos diferentes em momentos diferentes na diferença que somos todos. Lento, rápido demais, titubeante, sem hesitações. Avisa-nos todos os acordares que vai passando e que, na nossa sombra, se afasta do pequeno que fomos. Sim, já não somos pequenos. Diga-se que, nos tempos que correm, nem as crianças já são pequenas – adultos em formol?. Assim sendo, para que servirá a tinta nos grisalhos, as picadelas de botox, o silicone nas mamas ou os tratamentos continuados do elixir da juventude? Não sabemos, com algum grau de fiabilidade, que o processo natural não é reversível? Sim, o tempo é arrogante. Sim, é insensível. Sim, é inflexível. A preocupação do tempo com o corpo é inversamente proporcional à dos cirurgiões plásticos e afins com as suas contas bancárias. Este dízimo oferecido não oferece nada em troca – minto, afirma solenemente a frivolidade, despida, vazia. As promessas esbarram na garantia das certezas. Sim, a juvenilidade já mudou de casa – e não volta – a menos que tenha ficado trancada na despensa, ou sala de estar, no mais íntimo de todos: o espírito (vulgarmente apelidado de inteligência). Porque a juventude não se encontra no silicone das mamas, nem no botox das rugas ou nas tintas das raízes: a juventude passa pela curiosidade, pela sede do novo, pela continuidade do processo. Passa pelo acumular, passa pela soma, nunca pelo regresso à casa de partida. Passa pelo conforto – tenha-se a idade que se tenha de ter. Dito isto, talvez todos os disfarces acima não sejam somente futilidades. Porventura têm razão de ser para quem quer enganar o espelho que, todas as manhãs, devolve um desconhecido que não se convidou. Uma vez que as companhias são por nós escolhidas, talvez faça algum sentido. O prazer é dever de quem se acompanha. Porque é disso mesmo que se trata – de prazer. Livros e outros que tais insuflam o ego? Claro que sim.
Só que em sítios completamente diferentes.

1 comentário:

Ana Aguilar disse...

E para enriquecer esse bem colocado pensamento, deixo aqui este video com a conferente Jean Kilbourne, que faz referência ao abuso, exploração e venda do indivíduo através do comercialismo de valores, sexualidade, imagem, popularidade e normalidade :
http://video.google.com/videoplay?docid=-1993368502337678412#