terça-feira, 7 de abril de 2009

Pinta


Charme. Elegância. Garbo. Decoro. Pundonor. Distinção. Honra. Distinto. Polido. Cortês. Delicado. Civilizado. Bem-educado. Esclarecido. Pinta. Tem Pinta quem se encontra balizado pelas características – quase sinónimos – atrás referidas. Há quem tenha Pinta e há quem não tenha nenhuma. Como se afere? Julgo estar muito ligado à abundância ou falta da mesma, não da abundância monetária mas da falta de integridade, bem entendido. Atente-se a Pinta da senhora que diariamente lava as escadas dos prédios, distribuindo, desdentada, um largo sorriso a todos que por ela passam em contraponto com o novo rico insolente de fato por medida, gel e brilhantina que leva “criada”para o servir no café da esquina. Pois, a Pinta não se vende, menos se compra. Ter Pinta tem direitos registados e é intransmissível. Ter Pinta é marca registada. Quem tem Pinta marca, em qualquer ambiente que seja, pouco importa a quantidade. É das características mais ambíguas que existem, uma vez que é tanto, e ao mesmo tempo, subjectiva e objectiva. O entendimento de cada um promove a subjectividade, a convergência atinge-se nos pontos inquestionáveis. Todos concordam na Pinta de quem por esta se destaca: um sorriso franco, demorado e generoso, arrebatador de encantamento e admiração; um olhar brilhante e magnificente que nos desarma de humildade; na cordialidade de ceder o seu lugar. Ter Pinta são demasiadas coisas. Quem tem Pinta tem temas. Quem tem Pinta tem argumentos. Quem tem Pinta tem ideias que não se obrigam a ser geniais ou factuais, podem até ser disparatadas, mas com certeza defendidas com firmeza, com singularidade. Ter Pinta é imaginar, mais ainda concretizar. Disparatado é não experimentar nenhuma das anteriores. Ter Pinta é, de forma elegante, ser simples, ser despretensiosamente impressivo. Ter Pinta é ser simples.
Simples não combina com vulgar.

Sem comentários: