segunda-feira, 30 de junho de 2008

Pontos negros (negríssimos)!

Lá do alto, é irrelevante se o aterro, a pedreira, a extracção de areia ou a intervenção urbanística são legais ou ilegais. O que salta aos olhos é o impacto visual da acção humana no território.

O DIÁRIO sobrevoou parte da ilha da Madeira a bordo do helicóptero da 'Heliatlantis' (durante uma hora) e parte do resultado é o que as imagens documentam. Foi uma 'Flying Experience' à procura dos 'pontos negros' na paisagem. Inventariámos 52 zonas vulneráveis.

De saída do Funchal rumo a Oeste, salta à vista o quarteirão do 'Funchal Centrum'. Segue-se o Ribeiro Seco. A construção da via expresso para o porto do Funchal está a estrangular o ribeiro e a deixar marcas na paisagem. No vale, a montante, é visível a construção em zona verde urbana de protecção. Os picos dos Barcelos e das Romeiras, cada vez mais cobertos de construção.

Aproxima-se a central termoeléctrica dos Socorridos. As chaminés deitam fumo sem tratamento dos gases poluentes. Mas o problema mais grave é a montante: a extracção de inertes, e a sua acumulação nas margens, vai ribeira dentro quase até ao Curral das Freiras.

Passado o Cabo Girão, do mar, é visível a ausência de integração paisagística da via rápida, na zona do Campanário. Mais à frente avista-se a descaracterização do litoral com enrocamentos marítimos na Ribeira Brava e Ponta do Sol. Adivinha-se o mesmo na Calheta. Entre túneis da estrada antiga (Pt.ª do Sol/Madalena) o Homem esventra a rocha.

Sobe-se o vale da ribeira da Ponta do Sol. Outra intervenção humana (via expresso para os Canhas) que deixa marcas na paisagem. Ribeira estrangulada e ocupada. Contrastes de verde e castanho. Lá ao fundo o grande impacto da pedreira da Malhadinha (Canhas). Para lá do horizonte adivinha-se outros cenários: pedreiras na ribeira da Fundoa, Prazeres; pastoreio de gado bovino no chão do Fanal (a destruir tis seculares); espécies exóticas a ameaçar a Laurissilva na Boaventura.

Rumo a Leste. Agora pelo interior. O parque empresarial da Ribeira Brava surge-nos pela frente. Segue-se o aterro do pau branco, Câmara de Lobos. Depois, a pedreira no Estreito, à beira do vale dos Socorridos.

Na ribeira de Santo António, um amontoado de empresas. Na Fundoa, pedreiras e aterros. Onde está o tampão verde! Outra pedreira junto ao Parque Ecológico em expansão é bem visível do Funchal. Britadeira a rivalizar com N.ª Sr.ª da Paz (Terreiro da Luta). Estádio do Nacional construído em zona florestal.

Segue-se o aterro da Fundação Social Democrata. Taludes bem organizados a contrastar com o aterro logo abaixo do restaurante 'Abrigo do Pastor', desorganizado. Quatro estradas, antiga lixeira da Meia Serra, Águas Mansas. Aqui, duas intervenções brutais. A construção da lagoa de retenção de águas e um aterro ali ao lado (desfasado da realidade). A pedreira e a britadeira de João Frino a roçar o Parque Natural. Lá de cima, não se vê nem se sente os efeitos das descargas de dejectos de agro-pecuária no Santo da Serra.

Adivinha-se o que virá mais à frente: aterro junto à Aldeia da Paz; aterro de Água de Pena (Cardais); pedreira do Caniçal, junto à saída do túnel; extracção de inertes na ribeira do Faial.

Rumo ao sul. Vale do Porto Novo. Uma lástima com pedreiras e britadeiras. Aterro marítimo do Porto Novo, Garajau, Funchal. Pressão urbana. Casas à beira de precipícios.
DN Madeira - 30-06-2008

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